domingo, 10 de agosto de 2008

Caos reina em cidade rebelde da Geórgia depois de batalha



Por Denis Sinyakov
TSKHINVALI, Geórgia (Reuters) - Apenas o rumor da artilharia distante quebrava o silêncio que envolvia Tskhinvali neste domingo, mas os habitantes da principal cidade da região rebelde da Ossétia do Sul se perguntavam quanto tempo iria durar a calma relativa.
Em meio aos escombros dos prédios destruídos, os residentes se aventuraram pela primeira vez para fora dos porões no domingo, depois de três dias de intensos combates.
Muitos ficaram chocados ao verem as ruas cobertas de escombros e vidros quebrados, além de corpos espalhados no chão.
Alguns residentes disseram que muitas pessoas continuam soterradas pelos escombros de concreto e metal.
"É terrível. Não sabemos o que está acontecendo", disse uma senhora de idade a um repórter da Reuters que entrou na cidade com as tropas russas. "Nunca vi nada igual em toda a minha vida".
Milhares de civis fugiram durante as primeiras horas da batalha e muitos prédios de apartamentos, com as paredes cravejadas de tiros, pareciam desertos.
Com a maior parte da infra-estrutura local em ruínas, os residentes tentavam achar água e comida, enquanto o fogo de artilharia vibrava nos arredores da cidade.
Violeta Kukoyeva, que acompanhava um parente mais velho, disse ter passado os três últimos dias escondida em um abrigo subterrâneo.
"Não tínhamos nada para comer. Só um pouco de pão, um pouco de água", disse.
Os médicos de um hospital local transferiram pacientes para um porão fracamente iluminado depois que as explosões abriram grandes buracos nos andares superiores. Eles disseram não ter suprimentos médicos ou água para tratar dos 200 feridos.
"Não temos nada para alimentá-los. Damos o pouco pão que temos aos mais velhos. Eles precisam mais", disse a doutora Valentina Kutukhova.
Moscou disse que dois mil civis haviam morrido e milhares estavam desabrigados em uma "catástrofe humanitária" na Ossétia do Sul. Os números não puderam ser verificados.
A Geórgia propôs um cessar-fogo e no domingo disse ter retirado suas tropas da capital separatista. Mas os habitantes locais disseram que as tropas da Geórgia continuavam ao redor da cidade. Algumas pessoas disseram haver atiradores escondidos nas ruínas.
Um repórter da Reuters viu os corpos de seis soldados da Geórgia deixados sobre pilhas de escombros perto de um tanque.
"Tudo está destruído, nada funciona, nem mesmo o necrotério", disse a médica de um hospital local, com a voz trêmula. "Os combates continuam. Não sobrou mais nada".

sábado, 9 de agosto de 2008

Entenda o conflito envolvendo Rússia e Georgia na Ossétia do Sul


Escalada de tensão suscita temores de guerra na região do Cáucaso.
A escalada das tensões entre a Geórgia e os separatistas da região de Ossétia do Sul evoluiu para violentos combates nos últimos dias e o envolvimento da Rússia, que enviou tanques para a região em apoio aos rebeldes, suscitou temores de uma guerra na volátil região do Cáucaso.
A administração separatista da Ossétia do Sul vem tentando obter reconhecimento desde que declarou a sua independência do governo central, após uma guerra civil nos anos 90.
A Rússia tem uma força de paz na região, mas o governo de Moscou também apóia os separatistas.
A BBC preparou uma série de perguntas e respostas que explicam os principais pontos da crise:
Qual é o atual status da Ossétia do Sul?
A Ossétia do Sul tem tido um governo próprio desde que lutou com a Geórgia pela sua independência em 91 e 92, logo após o colapso da União Soviética.
Durante o conflito, a região declarou sua independência, mas ela não foi reconhecida por nenhum país.
O presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, prometeu colocar a Ossétia do Sul e outra região separatista, a Abecásia, sob controle da Geórgia.
Por que os ossetianos querem se separar?
Os ossetianos são uma etnia originária das planícies russas ao sul do Rio Don. Eles têm identidade e cultura diferentes da dos georgianos e uma língua própria.
No século 13, as invasões mongóis empurraram a etnia para as montanhas do Cáucaso, e os ossetianos se estabeleceram ao longo da atual fronteira da Geórgia com a Rússia.
Os ossetianos do sul querem se juntar à Ossétia do Norte, que é uma república autônoma dentro da Federação Russa.
Os georgianos são uma minoria na Ossétia do Sul, representando menos de um terço da população.
A Geórgia rejeita o nome Ossétia do Sul, preferindo chamar a região pelo nome antigo, Samachablo, ou Tskhinvali, a principal cidade da região.
O que detonou esta crise?
As tensões vinham aumentando desde a eleição do presidente Saakashvili em 2004. Ele ofereceu à Ossétia do Sul diálogo e autonomia, mas no contexto de um só Estado, o da Geórgia.
Em 2006, os ossetianos do sul votaram em um referendo extra-oficial em uma tentativa de fazer pressão pela independência completa, e segundo as autoridades da Ossétia, a maioria esmagadora da população o fim da união com Tblisi.
Em abril de 2008, a Otan disse que a Geórgia poderia no futuro vir a ser um membro da aliança militar - o que irritou a Rússia, que se opõe à expansão da Otan para o leste. Semanas depois, a Rússia reforçou os seus laços com as regiões de Ossétia do Sul e Abecásia.
Em julho a Rússia admitiu que seus caças entraram no espaço aéreo da Geórgia, na região da Ossétia do Sul. Confrontos antes esporádicos se escalaram, até que, segundo informações não confirmadas, seis pessoas acabaram mortas por projéteis de forças georgianas.
A Rússia poderia se envolver diretamente numa guerra?
A Rússia insiste que tem agido como uma força de paz na Ossétia do Sul e nega as acusações de que vem fornecendo armas aos separatistas.
No entanto, Moscou já prometeu defender os cerca de 70 mil cidadãos russos que vivem na Ossétia do Sul.
A Rússia pode interpretar uma intervenção militar como uma opção menos arriscada do que reconhecer a independência da Ossétia do Sul, o que poderia levar a uma guerra com a Geórgia.
As ligações da Geórgia com a Otan podem influenciar este conflito?
O presidente Saakashvili fez da entrada na Otan uma de suas prioridades. A Geórgia tem um relacionamento próximo com os Estados Unidos e vem cultivando vínculos com a Europa Ocidental.
Há quem diga que Saakashvili espere levar a Otan a um conflito com Moscou, de forma a formalizar a aliança.
Mas analistas dizem que é difícil imaginar que a Otan se deixe arrastar para um conflito com a Rússia por causa da Geórgia, depois de ter se esforçado para evitá-lo por tanto tempo.