terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A FIFA e os esquecidos de uma outra Europa

Muito se falou sobre esta copa do mundo, porém o que infelizmente passou quase que desapercebido, principalmente entre a maioria de nós leitores sul-americanos foi o fato de ter sido negado pela FIFA, o órgão Maximo do futebol mundial um simples pedido, comum em quase todos os grandes eventos esportivos. O pedido fora feito pela ONG, Sociedade Internacional de Povos Ameaçados, e o apelo era muito simples, um minuto de silêncio em homenagem as vitimas do massacre de Srebrenica, durante a terrível guerra da Bósnia que ocorreu entre os anos de 1992 a 1995.
O massacre foi perpetrado por forças sérvio-bósnias que invadiram um dos últimos territórios ocupados pelos muçulmanos bósnios, grupo étnico-religioso que foi a maior vitima nesta terrível guerra. A final da copa do mundo foi exatamente no dia 11 de julho, a data do massacre qualificado como genocídio pela Corte Internacional de Justiça.
O fato mais curioso em toda esta história é que exatamente no décimo quinto aniversario do massacre de Srebrenica, entram em campo Espanha e Holanda. A mesma Holanda que durante aquele fatídico 11 de julho de 1995 guarnecia a região de Srebrenica, como mediadora do conflito sob a bandeira da ONU e foi sob esta mesma bandeira que este destacamento holandês assistiu o exercito sérvio-bósnio matar 8.372 muçulmanos bósnios, em sua grande maioria camponeses desarmados, que após serem brutalmente assassinados ainda tiveram seus cadáveres depositados em valas comuns, mostrando quão terrível pode ser uma guerra.
Aqueles 90 minutos, sem contar a prorrogação, do dia 11 de julho de 2010, onde os monarcas dos dois países torceram unidos, tem um caráter simbólico. O fato de uma entidade esportiva, amplamente financiada pelos países tidos como referencia em civilidade, expectativa de vida, qualidade de vida, etc., que alardeiam aos quatro cantos que lutam pela promoção do bem estar da humanidade, da sustentabilidade, e outras nobres causas, mostraram-se mais uma vez omissos perante as mazelas do mundo. É como se ainda estivéssemos vivendo o colonialismo, que culminou nessa divisão do mundo entre desenvolvidos e subdesenvolvidos.
A grande lição que tiramos disso tudo é que o esporte, pelo menos este extremamente institucionalizado cumpri as convenções dos países poderosos, aderindo aos seus discursos hegemônicos, do que abrir um paralelo para questionar como a Europa da civilidade permitiu que ocorre-se um genocídio em suas terras ( A guerra da Bósnia foi a mais sangrenta guerra em solo europeu depois da segunda guerra mundial). Estas linhas que se seguem são uma homenagem aos mais de 8.000 muçulmanos bósnios mortos naquele terrível 11 de julho, e cujo sua história foi impedida de ser recontada, mesmo que por um minuto, em milhares de televisores ao redor do mundo, por uma simplista escala de prioridades.

Radamés Rodrigues Neto

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